Após atuar ao lado de Jamie Foxx na adaptação de Annie em 2014, Cameron Diaz decidiu se afastar de Hollywood para focar em sua família e aproveitar os frutos de uma carreira de duas décadas como a “garota americana perfeita”. Agora, dez anos depois, ela retorna às telas junto com Foxx em Back In Action. Este também é um retorno marcante para Foxx, que sofreu um derrame no final das filmagens em 2023, mas recuperou-se completamente.
No filme, os dois interpretam Emily e Matt, espiões apaixonados que enfrentam um dilema: continuar no mundo das missões secretas ou começar uma família. Por 15 anos, a decisão de ter filhos parecia ser a escolha mais tranquila. No entanto, como muitas famílias descobrem, as crianças têm o dom de reavivar velhos hábitos. Um incidente viral inesperado joga o casal de volta ao mundo da espionagem global, misturando terrorismo leve e ação eletrizante em uma narrativa que se propõe a ser divertida para toda a família.
Dirigida por Seth Gordon, a comédia de ação cumpre seu objetivo principal: destacar o talento inegável de Diaz e Foxx. Foxx aproveita o tempo de tela para exibir tanto sua habilidade física quanto seu timing cômico, enquanto Diaz brilha como uma estrela de ação, alternando entre golpes ágeis e falas rápidas com maestria. A química entre os dois é evidente, mostrando que os filmes de ação não são tão diferentes de musicais: ambos exigem ritmo e sincronia. No entanto, os personagens Emily e Matt pouco evoluem ao longo da trama, permanecendo estáticos e presos à nostalgia.
Há algumas surpresas no roteiro. Emily, por exemplo, tem dupla cidadania com o Reino Unido e vive nos Estados Unidos para evitar sua mãe ausente, Ginny (interpretada por Glenn Close), uma “lenda do MI6” conhecida por sua aversão a abraços. Ginny, acompanhada por seu jovem e hilário namorado Nigel (Jamie Demetriou), oferece os momentos mais frescos e engraçados do filme. Close entrega uma caricatura deliciosa do famoso “estoicismo britânico”, enquanto Demetriou é um cavalheiro atrapalhado e divertido. A química entre os dois é tão forte que chega a superar a de Diaz e Foxx, o que fica evidente em uma sequência de ação com Close que é um verdadeiro deleite, contrastando com o previsível enredo principal.
Back In Action recorre frequentemente a cenas de ação formulaicas. Vilões estrangeiros, como o interpretado por Andrew Scott, enviam seus capangas em perseguições de tirar o fôlego por aviões, trens e carros, tudo para obter “A Chave”. Segundo o contato do casal no governo dos EUA (Kyle Chandler), essa chave poderia “desbloquear as infraestruturas mais críticas do mundo”. Embora a ameaça de “outro Chernobyl” seja mencionada, nunca há um real senso de perigo, exceto o de perder algumas horas assistindo ao filme.
Mesmo trazendo Diaz de volta aos cinemas, o filme parece incerto sobre o que fazer com sua personagem. Diaz continua exibindo o carisma que a transformou na queridinha dos anos 2000, com sua paixão por esportes, hip-hop dos anos 80 e uma beleza aparentemente sem esforço. No entanto, os poucos momentos que tentam explorar sua maternidade soam artificiais e desconectados de sua realidade atual como atriz e pessoa. Pior ainda, Emily acaba sendo ofuscada por Ginny, que aparece empunhando uma espingarda e exibindo um piercing moderno, roubando todas as cenas.
Foxx, por outro lado, também não tem um personagem muito desenvolvido, mas ao menos está livre das complexidades melodramáticas que envolvem Emily. A falta de profundidade nos protagonistas impede que o filme realmente explore o potencial de ambos os atores.
Apesar de reunir Diaz e Foxx, Back In Action não oferece material novo para seus protagonistas. O filme parece mais uma reciclagem de sucessos como As Panteras, Encontro Explosivo ou O Ataque. Ambos os atores merecem um roteiro que considere suas trajetórias e construa algo novo. Diaz não precisa de um “momento dramático intenso”, mas de um filme de ação que esteja à altura de seu talento.
A maior força de Back In Action é lembrar que não podemos voltar ao passado; só podemos seguir em frente.