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O Legado de Pee-wee: A Rede de Excêntricos Ambiciosos de Paul Reubens

ByNayara Silva

Mai 23, 2025

A atuação de Paul Reubens como Pee-wee Herman marcou gerações ao oferecer ao público algo raro: a permissão para ser esquisito. Muito além de um personagem infantil, Pee-wee tornou-se um símbolo de liberdade criativa e autenticidade, acolhendo todos que fugiam do padrão.

Embora seja lembrado principalmente por um único papel, Paul Reubens teve uma vida repleta de reinvenções. O novo documentário “Pee-wee as Himself”, dividido em duas partes e com estreia marcada para esta sexta-feira na HBO, mergulha nas múltiplas facetas do artista, revelando histórias que poucos conheciam.

Antes de criar seu alter ego icônico, Reubens já brilhava como ator mirim em produções teatrais regionais. Crescido em Sarasota, na Flórida — conhecida como a cidade do circo e lar dos Ringling Bros. — ele foi cercado desde cedo por figuras que se autodenominavam “aberrações”, um ambiente que moldou sua visão de mundo. Na juventude, tornou-se um apaixonado por Andy Warhol, um colecionador obsessivo de peças kitsch e um performer em ascensão, já flertando com a arte experimental.

Entre as diversas revelações do documentário, que tem cerca de três horas de duração, está o fato de Reubens ter assumido ser gay — algo que ele compartilhou abertamente em certo ponto da vida, antes de decidir esconder novamente sua orientação sexual, numa época em que a sociedade não era tão receptiva.

Sua morte, aos 70 anos, em 2023, também pegou muitos de surpresa. Ele conviveu silenciosamente com o câncer por anos, mantendo a doença em segredo até mesmo dos diretores que registraram mais de 40 horas de entrevistas com ele. Reubens ainda tinha uma última conversa marcada com a equipe quando faleceu.

Ainda mais impactante do que seu falecimento foi a constatação da ousadia de seus sonhos e da profundidade de sua influência. Nos anos 1980, auge de sua carreira, com o sucesso de “A Grande Aventura de Pee-wee” e o programa infantil “Pee-wee’s Playhouse”, ele criou um universo onde o impossível era bem-vindo — um espaço lúdico em que qualquer um podia ser o que quisesse.

Nesse mundo fantástico, cadeiras abraçavam, o chão falava e até Abraham Lincoln, em versão mecânica, preparava panquecas. Era uma celebração do estranho, do excêntrico, do não convencional — tudo encabeçado por um artista que acreditava na força transformadora da criatividade.

Ao impulsionar e apoiar uma geração de artistas igualmente incomuns — muitos deles presentes no documentário — Reubens construiu uma verdadeira rede de “excêntricos ambiciosos”, como alguns se definem. Em clubes alternativos e cabarés underground, ele era mais do que uma estrela: era um incentivador, alguém que vibrava com a liberdade do outro.

Hoje, com a estreia de “Pee-wee as Himself”, o público poderá conhecer melhor esse legado. Não apenas o de um personagem peculiar de roupas justas e voz aguda, mas o de um criador que transformou o esquisito em arte — e o fez com tanta verdade que ainda inspira novas gerações.